A angústia não é um erro do psiquismo.
Ela é a borda, o contorno do sujeito diante de algo que não se deixa nomear.
Para Lacan, a angústia não é um afeto qualquer.
Ela não se acomoda ao campo das representações.
Ela rompe o véu do simbólico, revelando o aquilo que escapa à linguagem.
Ela emerge quando o desejo do Outro se torna enigmático, quando o sujeito não sabe mais o que é para o Outro: objeto de amor? de gozo? de nada?
Nesse hiato entre o que se é e o que se espera ser,
a angústia se instala como sinal de verdade.
Ela não engana porque não se traveste de sentido. Ela apenas aponta para a falta,
para o furo estrutural que constitui o sujeito que fala.
Ao contrário do medo — que tem um objeto —
a angústia é puro deslocamento.
Ela não indica um perigo,
mas uma presença estranha: a do desejo do Outro, quando ele se volta para nós… e nos atravessa. E a célebre pergunta emerge: o que querem de mim?
Na clínica, não se busca eliminar a angústia,
mas escutá-la como bússola.
Pois onde ela pulsa, há algo do sujeito em jogo.
Algo que merece ser dito, mesmo que doa.